sábado, 30 de julho de 2011

uma frase पौलिस्ताना.





quarta-feira, 27 de julho de 2011



Tire as mãos do meu carro! – uma frase paulistana



Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Critiquei o comentário tosco do prefeito de São Paulo ao tratar do frio a que estão submetidos moradores de rua no meu último post. É incrível mas, quando toco nesse assunto, há uma enxurrada de comentários raivosos e, entre eles, a frase que representa toda a sabedoria reacionária por trás de tanto ódio:
“Tá com dó, leva pra casa”. Para dar continuidade ao assunto, resgatei uma história que já havia discutido aqui.


Um Beetle (o Fusca reestilizado da Volkswagen) cor-de-rosa pára no cruzamento da avenida Henrique Schaumann com a rua Cardeal Arcoverde, área nobre da cidade de São Paulo. No interior, apesar dos vidros fechados, dá para ver uma moça por volta de seus 20 anos e um rapaz da mesma idade, ambos aparentando alta classe social. Finos. Um velho homem, sem-teto, se aproxima do carro para pedir uma esmola. A idade pesa e ele encosta no capô enquanto faz o pedido aos ocupantes.

Pânico rosa-choque. A menina gesticula freneticamente. Aperta um botão no painel de seu carro e liga um alto-falante para falar com o mundo exterior: “Tire as mãos do carro!”

O idoso, surpreso, obedece. O semáforo abre e o carro arranca.

Ações explícitas de preconceito social no trânsito, travestidas do verniz de “temor por segurança”, não páram de me surpreender. De início, foram os carros blindados, que levam para as ruas da cidade a sensação de encastelamento dos condomínios fechados ou das mansões muradas. Sentimento falso, pois não são muros, chapas de aço ou um sisteminha de microfone/alto-falante de carro de pamonha que garantirão segurança aos moradores de uma metrópole como São Paulo. É bom como efeito placebo, para se enganar, mas, mais dia ou menos dia, as “hordas bárbaras” vão engolir a “civilização”. Ou seja, uma hora a bomba estoura.

São Paulo tem mais de 11 milhões de habitantes, mas apenas uns poucos são efetivamente cidadãos, com acesso a todos os seus direitos previsto em lei. Lembra a antiga Atenas, com uma democracia para uns poucos iluminados e o trabalho pesado para o grosso da sociedade, composta de escravos. Enquanto uns aproveitam uma vidinha “segura” dentro de clubes, restaurantes, boates, residenciais e carros com alto-falantes, outros penam para sobreviver e ser reconhecidos como gente. Para casa assassinato em Moema, 130 são mortos no Grajaú. Só que a morte de uma jovem em Moema causa mais impacto na mídia do que a de 130 na periferia, como já aconteceu em outros tempos. Tem vida que vale mais que outras, por causa do dinheiro.

Qual a causa da violência? A resposta não é tão simples para ser dada em um post de blog, mas com certeza a desigualdade social e a sensação de desigualdade social está entre as principais razões.

O preconceito da proprietária do Fusca estiloso vai no sentido contrário a uma solução, isolando os ricos ainda mais, deixando-os alheios ao sofrimento do resto da cidade. E, pior, dando aos mais pobres a sensação de que são lixo. Corta-se com isso a dimensão de reconhecer no outro um semelhante, com necessidades, e procurar um diálogo que construa algo e não destrua pontes. Há riscos de assaltos? Sempre há e eles vão acontecer. Mas deve se ter em mente que há atitudes que pioram o quadro. Ou a cidade será boa para todos ou a aristocracia que sobrar após o caos não conseguirá aproveitar sua pax paulistana.



do BLOG DO SAKAMOTO

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto, tanto na forma, como no conteúdo, a título de contribuição, tendo trabalhado em vários estados do nosso maravilhoso país, devo esclarecer que, tristemente, não se trata de uma frase paulistana, mas uma frase brasileira.

A frase "tire as mãos do meu carro" relata o tratamento dispensado por uma pessoa fria e materialista, à uma pessoa pobre e necessitada, é um comportamento ruim, mas não me assusta, o que me assusta é o comportamento que essas pessoas frias e materialistas, dispensam à sua própria família, privilegiando o carro.

Outros, muito melhores que eu, já analisaram o problema, e relataram que há pessoas capazes de dar 60 litros de gasolina Aditivada ou Premium para o carro beber, mas incapazes de dar 1 litro de leite integral tipo A para um filho em fase de crescimento beber, dizem que a gasolina é barata, mas o leite é caro.

Levar o filho doente ao consultório médico, é um compromisso chato, se o filho não estiver com febre, fatalmente isso será adiado, mas levar o Deus Carro à oficina mecânica é um compromisso sério e inadiável.

Pagam com satisfação os valores cobrados pelo mecânico que cuida do carro, mas não pagam uma consulta médica para a esposa, pagam muito pelo seguro do carro, mas nada pelo seguro de vida, preferem deixar a família à própria sorte, caso o Deus Carro decida ceifar-lhes a vida.

Não me orgulho de ser paulistano, ao contrário, quase sinto vergonha disso, mas a verdade é que o povo brasileiro é todo assim, em todas as classes sociais, infelizmente.

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A lua cheia de beleza e luz É fase bela e misteriosa Por que será que a tantos seduz ? Talvez porque tão decantada em prosa. Lua minguante, fase tão modesta Que míngua a dor do que acredita nela. É lua boa e não se manifesta Como uma fase que aparece bela. A lua nova, clara e brilhante, Sempre renova a fé de algum mortal; É lua limpa, não tem semelhante Visível em todo plano sideral. Lua crescente, cresce a esperança, De vida boa, com fartura e paz. Com fé na lua, toda graça alcança, Quem, com trabalho, seu destino faz. Dizem que a lua influencia a vida, Sendo a raiz dessa crença remota. Há quem afirme ser crença vencida, Mas contestá-la se torna idiota...

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