quarta-feira, 9 de novembro de 2011

FIMDELINHA



A vida só é suportável porque acaba


por Ana Sesarino



As coisas mais excitantes da vida são justamente aquelas que não se sabe quanto tempo vão durar, ou que estão programadas para durar pouco. É isso que faz uma viagem de férias ser tão divertida, mas uma mudança definitiva de cidade ser tão difícil. É isso que faz as “ficadas” serem tão empolgantes, e muitos casamentos tão entediantes.

Sim, promessas de eternidade tendem a ser brochantes. Já nos anuncia o ditado que “tudo o que é bom dura pouco”. E assim se torna. Você pode fazer cara feia pra o que estou dizendo, até porque uma boa parte das pessoas diz querer amor eterno, mas sejamos práticos. Pense numa comida que você gosta. Agora imagina que você irá comê-la em todas as refeições, para sempre. Não dá. Não há quem agüente nada, eternamente. (Nem que seja Nutella!)

Talvez por isso muita gente que se ama precise, de vez em quando, ficar longe um do outro, para lembrar o quanto se gostam. Daí os casais ioiôs, que terminam e voltam compulsivamente.

E talvez, ainda, por isso, o casamento seja algo que gera tanta controvérsia entre os sexos. Diz o clichê que as mulheres querem casar, e os homens, não. Chamam, inclusive, o casamento de morte. E não deixa de ser, de certa forma. Casar significa que você encontrou a pessoa com quem quer passar toda a sua vida. (Estão fadados à separação os casamentos onde a pessoa pretende se separar no mês seguinte, certo?) Assumir que você conseguiu algo, de certa forma, é lidar com uma morte simbólica. A morte da busca.

As pessoas reclamam compulsivamente da faculdade, no entanto, muitos sentem a falta dela (ambiente universitário, colegas, professores) ao se formarem. Aliás, as pessoas choram muito em formaturas, como em casamentos. São choros de alegria (na maior parte das vezes), de alívio, mas ainda assim, são choros.

Os franceses usam a expressão “La petit mort” (a pequena morte) para se referirem ao orgasmo. Daí, talvez, o fato de algumas pessoas (mulheres, normalmente) chorarem após as relações sexuais.

Então estou dizendo que as coisas boas da vida acabam, e que ainda bem que é assim. Porque pior do que aquilo que acaba é aquilo que não termina.


Formada em Psicologia e especialista em Psicologia Clínica pela PUC-PR. Em Curitiba, trabalha como psicanalista e professora universitária.

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A lua cheia de beleza e luz É fase bela e misteriosa Por que será que a tantos seduz ? Talvez porque tão decantada em prosa. Lua minguante, fase tão modesta Que míngua a dor do que acredita nela. É lua boa e não se manifesta Como uma fase que aparece bela. A lua nova, clara e brilhante, Sempre renova a fé de algum mortal; É lua limpa, não tem semelhante Visível em todo plano sideral. Lua crescente, cresce a esperança, De vida boa, com fartura e paz. Com fé na lua, toda graça alcança, Quem, com trabalho, seu destino faz. Dizem que a lua influencia a vida, Sendo a raiz dessa crença remota. Há quem afirme ser crença vencida, Mas contestá-la se torna idiota...

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